quinta-feira, 8 de março de 2012

Cinco centavos

Eram exatamente 8 horas e 3 minutos de uma manhã de segunda-feira. Lá estava eu na parada de ônibus. Mais alguns minutos e pude avistar o dito cujo. Embarquei com meus 3 reais na mão, o TRI ainda não havia sido renovado, entreguei-os ao cobrador e fiquei na espera da devolução dos meus 15 centavos de troco. Foi então que ele disse:
- Posso ficar te devendo 5 centavos?
Inocentemente, confirmei com a cabeça e segui com 10 centavos até o assento mais próximo.
No dia seguinte, mesmo horário, mesmo ônibus, mesmo valor entregue, cobrador diferente. Mais uma vez ouvi a frase:
-Posso ficar te devendo 5 centavos?
Novamente deixei passar.
Naquele mesmo dia, voltando do trabalho, precisei ir ao supermercado comprar suprimentos para casa. Adivinhem só, outra vez fui questionada sobre os 5 centavos.
-Não, moço. Me perdoe, mas quero meus 5 centavos.
Ainda com a credencial IMPRENSA escrita em vermelho pendurada em meu pescoço, o rapaz atrás da roleta direcionou-se a mim:
- É da imprensa e ainda quer os 5 centavos de troco.
Fiquei na dúvida se estava mesmo ouvindo aquilo ou se era apenas uma brincadeira de um homem cansado querendo descontrair em mais um dia escaldante na capital gaúcha. Insisti novamente.
- Perdão, se não tens os 15 centavos, me devolva 20. É direito meu.
De cara feia, o jovem de, acredito eu, 30 e poucos anos, entregou-me os 15 centavos.
Poderia continuar aqui relatando inúmeras cenas semelhantes a essas. Algumas até mais absurdas e revoltantes, onde todas as vezes tive de insistir por meus 5 centavos. Sim, meus CINCO CENTAVOS. Exatamente, apenas 5 e MEUS, meus 5 centavos.

A prefeitura de Porto Alegre aumenta o preço da passagem de transporte coletivo anualmente. Em 2012 o acréscimo foi de quinze centavos. Sim, quinze centavos a mais para circular pela cidade passando calor, em um amontoado de gente e, na maioria das vezes, atrasando-se para os compromissos.
Dois reais e oitenta e cinco centavos, nem a mais nem a menos. Entregando uma nota de 50 ao cobrador é obrigação dele devolver o troco correto ou a mais, se não o tiver. É nosso direito pagar com 20 vezes o valor que nos é cobrado.
E não pensem que acabou. Hoje mesmo, na ida para a PUCRS, esperei exatos 54 minutos na parada. Resultado de uma falta na cadeira de Telejornalismo I. Resultado de uma ligação para a EPTC que durou aproximadamente 20 minutos praticando meu direito de reclamação pela demora. Reclamação essa que nunca será ouvida. Mas precisei reportá-la. Precisei exercer minha indignação e revolta.

Matemática nunca foi minha melhor disciplina e nem acredito que um dia será, mas peço aos apreciadores desta que façam o simples cálculo: Multiplicar esses 5 centavos pelo número de pessoas que ouviram a mesma frase que eu e, inocentemente, aceitaram não os receber. Não é preciso ser economista, matemático, físico ou administrador pra saber que o número final desta simples conta não será nada pequeno.

São incontáveis os absurdos dessa cidade, digo, desse país, mundo. E o que eu poderei fazer? Uma simples jornalista em formação reclamando de 5 centavos negados. Estudante de universidade privada, riquinha, rebelde sem causa.. Tudo papo furado! Somos todos farinha do mesmo saco. Fossem 5 ou 2 centavos, fosse morador de rua, da zona norte ou zona sul, estudante da UFRGS ou Unisinos, todos podemos e devemos reivindicar NOSSOS "míseros" 5 centavos.
Amanhã, às 8 horas e 3 minutos perguntarei ao cobrador:
- Posso ficar te devendo 5 centavos?