quarta-feira, 12 de setembro de 2012

Algum outro

Praia do ouvidor. Carro na beira, o mar estava tão perto que podia senti-lo.
Encostei-me no capô branco e embaçado pela maresia. Na areia, desenhei um coração com o pé esquerdo. Tentei arruma-lo com o direito. Assim repeti diversas vezes, tentando ajeita-lo, tentando consertar as dobras e linhas mal feitas. Cada vez que o fazia, ele diminua.

Como na areia, nosso coração funciona aqui dentro. Toda vez que caímos e tentamos cura-lo, fica menor. Fica mais difícil de se ver, de se encontrar. Perdido entre os grãos bagunçados. Exposto ao vento que o consome, as pisadas que o apagam, as tantas voltas que a vida nos dá, até que a tontura nos derrube.

E assim seguimos, na tentativa interminável de conserto. Na incansável busca for our souls mates. O sonho de "felizes para sempre". Pela necessidade de acordar pensando em alguém que não em si mesmo.

Lá se vão mais 24 horas e alguns rabiscos na areia da vida. Mais algumas tentativas, só mais duas ou três pra percebermos que quando ele realmente desaparecer é que entenderemos: Não há conserto.
Somente quando ele estiver tão pequeno a ponto de não o enxergarmos é que veremos o que está acontecendo. Não somos nós quem o desenhamos, consertamos e arrumamos. Há algum outro coração por aí.
Algum outro pronto pra nos ser emprestado. Dado, entregue, doado. Algum outro que complete os pedaços que a vida nos levou. Algum outro que também seja nosso.

16:37
08.09.2012
Praia do Ouvidor - SC