Passavam-se das cinco e vinte de uma tarde de quinta-feira. Henrique encontrava-se ao pé da sacada de sua casa. Mona, sua labradora, lhe fazia companhia.Era uma tarde como todas as outras, exceto pelo fato de completarem-se dois anos da morte de sua esposa. O velho e surrado chapéu de Henrique guardava todos seus pensamentos, lágrimas não derramadas, e uma consciência não tão tranquila. Como se aquele chapéu escondesse toda tristeza que aquele jovem aventureiro carregava.
"Dois anos, setecentos e trinta dias", pensou ele, observando algumas folhas que caíam aos seus pés. Desde aquele trágico e, infelizmente, inesquecível dia, nada mais fazia sentido para Henrique. Mona, que sempre fora a única a fazê-lo esquecer dos problemas, naquele dia, igualava-se ao inseto que subia pelo tronco de uma árvore, insignificante. Nada nem ninguém poderia estancar tamanha ferida no peito daquele solitário homem.
Henrique sentia-se mais do que sozinho, sentia-se como alguém que não merecesse mais viver. Seu corpo estava ali, mas sua alma e pensamento encontravam-se constantemente com as macias e suaves mãos de Ana Maria afagando seu cabelo.
Perguntava-se o porquê de não ter a amado mais. Mas afinal era impossível, não existira homem no mundo que já tivesse amado mais uma mulher do que ele a amava.
Ana Maria fora a primeira namorada de sua vida, a primeira transa, a primeira a dizer que seu cabelo ficava mais bonito curto, a única que ele tivera certeza que seria para sempre.
Após muitos minutos ali sentado, gritando por dentro, fugindo de suas lembranças, Henrique sabia que sua hora havia chegado. Era justo que fosse, precisava ser. Assim como sua esposa, inclinou-se para frente, observou o rio que corria abaixo de seus pés e deixou que a gravidade se encarregasse do resto.
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