quarta-feira, 29 de fevereiro de 2012

Coisa qualquer

A minha janela, a janela do meu quarto. Bem, ela é bastante grande, ocupa uma parede inteira. Gosto dela, sempre me faz companhia nas madrugadas perdidas da semana. Através dela vejo muita coisa. Diversos prédios entrelaçados, luzes acesas, pessoas e mais pessoas perambulando para lá e para cá. Vez em quando avisto alguma moça desavisada trocando de sutiã, algum velho em frente a tv se deslumbrando com alguma coisa que prefiro nem saber.
E quando a luz do notebook se apaga corro até ele e aperto a tecla mais próxima, sinto que também me faz companhia. No momento em que não o vejo iluminando minha cama percebo que somos mesmo só eu e aquelas outras pessoas. Aquelas desconhecidas e também desocupadas em seus respectivos quartos do outro lado da rua.

Diversas vezes me pergunto o que estariam elas fazendo, ou melhor, o que pensariam se soubessem que existe alguém, naquele momento, pensando nelas. Com o que trabalham, estudam, quais seus sonhos, nomes e rostos. Estaria eu as importunando? Não acredito que me acusariam de invasão de privacidade. Apenas mais uma jovem com insônia e vontade de escrever sobre coisa qualquer. 
O moletom velho guardado no fundo do guarda roupa já está chamando. O vento frio que vem entrando pede um abraço. Daí surgem as memórias, as lembranças e histórias. São tantas pessoas lá fora, tantas que já conheci. Quem se atreverá a dizer que uma delas já não passou por mim? A estrada foi longa, os caminhos se cruzaram e se fecharam mas, afinal, o que faço eu aqui, em meio a algumas almofadas, dois violões e tantos sonhos ainda não realizados?

Não posso perder o foco, já esqueci de trocar o lixo da cozinha e repor a água do meu cachorro. Acabei me perdendo com a lua crescente que me observa lá de cima. Fiz questão de não olhar para o relógio e lembrar que trabalho amanhã, as aulas também já vão começar e minha mente insiste em me desalinhar da vida que corre por fora dessa imensa janela.

Queria deixar um pouco de lado as preocupações. Essa vida de adulto vem me importunando ultimamente. Ir ao supermercado, pegar ônibus pra ir aqui e lá, responder a quem pergunta "sim, sou maior de idade". Pois é, qualquer coisa que aconteça não será mais o papai ou a mamãe a responder. Ah, são tantas coisas diferentes, já se passou quase um ano e eu pareço ainda estar "naquele esquema, escola cinema, clube televisão..". Que besteira dizer isso, tamanha infantilidade. Quase dezenove anos e ainda sente falta de casa? A saia da mãe e o colo do pai fazem falta? Quem diria! Tanto quis sair de casa, chutar o balde em festas, ganhar o próprio dinheiro, é.. Querem saber? Jogue a primeira pedra quem nunca sentiu falta de ser acordado por alguém que não um aparelho tocando determinada música que depois de um tempo acaba enjoando.
Mas, e agora, onde deixei meu pijama? Recorro a velha frase: "é muita mão", vou dormir assim mesmo, de roupa, antes que o vento acelere e leve embora minhas lembranças.

6 comentários:

  1. trocar a agua do cachorro, trocar o lixo e depois fazer minha torradinha com margarina dos dois lados ;)

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  2. linda essa tua habilidade natural de lapidar idéias! muito irado o texto! se vê de longe teu potencial! parabens, belas palavras.

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  3. Belíssimo esse teu texto, tu tens escrito coisas muito boas no teu blog. Meus parabéns !!

    att: Talles

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  4. muito bom, parabéns! me senti dentro da história...

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  5. interessante, pois acabei por saber que moras sozinha por opção sua. riquinha mimadinha com pensamentos socialistas? que vegonha

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