quarta-feira, 12 de setembro de 2012

Algum outro

Praia do ouvidor. Carro na beira, o mar estava tão perto que podia senti-lo.
Encostei-me no capô branco e embaçado pela maresia. Na areia, desenhei um coração com o pé esquerdo. Tentei arruma-lo com o direito. Assim repeti diversas vezes, tentando ajeita-lo, tentando consertar as dobras e linhas mal feitas. Cada vez que o fazia, ele diminua.

Como na areia, nosso coração funciona aqui dentro. Toda vez que caímos e tentamos cura-lo, fica menor. Fica mais difícil de se ver, de se encontrar. Perdido entre os grãos bagunçados. Exposto ao vento que o consome, as pisadas que o apagam, as tantas voltas que a vida nos dá, até que a tontura nos derrube.

E assim seguimos, na tentativa interminável de conserto. Na incansável busca for our souls mates. O sonho de "felizes para sempre". Pela necessidade de acordar pensando em alguém que não em si mesmo.

Lá se vão mais 24 horas e alguns rabiscos na areia da vida. Mais algumas tentativas, só mais duas ou três pra percebermos que quando ele realmente desaparecer é que entenderemos: Não há conserto.
Somente quando ele estiver tão pequeno a ponto de não o enxergarmos é que veremos o que está acontecendo. Não somos nós quem o desenhamos, consertamos e arrumamos. Há algum outro coração por aí.
Algum outro pronto pra nos ser emprestado. Dado, entregue, doado. Algum outro que complete os pedaços que a vida nos levou. Algum outro que também seja nosso.

16:37
08.09.2012
Praia do Ouvidor - SC

quarta-feira, 22 de agosto de 2012

Palavras

Gosto tanto de escrever que, às vezes, quando as palavras fogem, escrevo teu nome ao lado do meu.
Mas é só quando elas fogem. Eu juro.

Não digas que sou indecifrável.
Que quando me olhas não sabe o que há por trás do meu sorriso.
Eu sei que tu sabes, e tu sabes que eu sei.

O que eu não sei mesmo é o motivo pelo qual fogem.
Elas tem essa mania chata de ir embora toda vez que tu direcionas o olhar a mim.

Mas se de mim elas correm, por favor, não as falsifique.
Deixe que me mandem embora ou convidem pra um café ali na esquina.
Deixe-as me dizer que, na verdade, tu só não sabes como dizê-las. Tem medo delas.

Mas eu sei, amor. Eu sei da verdade. Nós somos muito mais do que apenas palavras.

terça-feira, 21 de agosto de 2012

Alguns copos

Foram alguns copos que me deixaram assim.
Alguns copos alcoolizados e cheios da verdade.

Foram eles quem te ligaram às 4 da manhã de ontem.
Foram eles quem te disseram meu amor.
Quem te contaram o que me aborrece.

Foram eles quem, por algumas horas,
me fizeram não lembrar de como gosto de olhar nos teus olhos.
Esquecer do teu riso e apenas procurar por outro.

Foram eles quem aumentaram a música até que as
lembranças sobre nós não fossem mais tão nítidas.

Foram eles que, na volta pra casa, me forçaram a sentar no chão da sala
e colocar a cabeça entre os joelhos.

Mas eles são só copos. Somente alguns copos carregados da verdade.
Copos apenas tentando dizer que era com você que a noite deveria acabar.
Era ao teu lado. Eles não me querem mais, os copos.

Alguns copos, amor. Só uns cinco ou seistentando lhe dizer que ainda estou aqui e, bem, talvez não demore tanto pra ir embora.

quinta-feira, 16 de agosto de 2012

124 verbos para viver feliz

Brigar e gritar. Servir e tomar. Fumar e beber.
Lutar e poder. Empurrar e puxar. Socar e tapear.
Voltar e deixar. Sentir e esquecer. Raiar e brilhar.
Radicalizar e fazer. Cantar e desafinar. Sair e ficar.
Chapar e comer. Escolher e acertar. Bater e aliviar
Dançar e pular. Respirar e lamber. Tocar e morder.
Sonhar e voar. Cozinhar e apreciar. Cheirar e tatear.
Desenhar e pintar. Sujar e limpar. Saber e conhecer.
Velejar e surfar. Lambuzar e lavar. Trair e desculpar.
Nascer e morrer. Batalhar e ralar. Correr e caminhar.
Vencer e perder. Conquistar e vibrar. Escutar e dizer.
Pedir e receber. Namorar e pirar. Absorver e abstrair.
Engordar e emagrecer. Dar e gostar Trabalhar e vadiar.
Acabar e começar. Olhar e desviar. Avistar e procurar.
Sorrir e rir. Ir e vir. Saltar e cair. Aprender e prosseguir.
Poupar e gastar. Acender e apagar. Chorar e gargalhar.
Bolar e fechar. Comprar e vender. Viajar e enlouquecer.
Sorrir e rir. Ouvir e falar. Odiar e amar. Transar e gozar.
Mexer e errar. Ler e escrever. Envelhecer e rejuvenescer.
Achar e encontrar. Levantar e continuar. Irritar e bloquear.

Viver, viver muito.



terça-feira, 14 de agosto de 2012

Nossa maneira

Terça-feira, 5:22 da manhã. A insônia insistia em bater minha porta e tomar conta do meu travesseiro. Coloquei meus fones e fui até a minha sempre fiel companheira, a janela.
As coisas parecem só piorar e eu não venho fazendo muito pra que melhorem. A obscuridade do meu quarto iluminado apenas pela brasa do meu cigarro também não ajuda.
"Hoje eu preciso te encontrar de qualquer jeito", cantou Rogério Flausino em meus ouvidos. Olhei para cima  e o céu estava mais laranja que de costume. O sol já estava vindo, lembrei de ti.

Lembrei de como tu costumava me tratar, de como me sentia segura ao teu lado, de como me fazia bem fazer parte da tua vida. Senti vontade de remexer meu guarda-roupa, arrumar as roupas mal dobradas, a bagunça de sempre. Os sapatos atirados e sujos ainda da noite de sexta passada. Mas senti mesmo vontade de te ver. De olhar nos teus olhos e explicar porque fui embora.

E por que diabos fui? "Em um casal, um dos dois sempre ama mais que o outro", tu me disseuma vez. Avistei a prateleira acima da minha cama e pude ver meu livro preferido. Tu deves saber qual. Me assustei com a saudade. Me assustei também com o que dissestes naquele dia 13 de março. Passaram-se mais de dois anos, passaram-se meses, dias e pessoas,  e o que não passou foi a minha lembrança do teu sorriso tímido. O que não passou foi o ponto de interrogação na minha cabeça, a pergunta que sempre me fiz: "Por que me disse aquilo?".

Ouvi um barulho no quarto ao lado, era minha irmã também importunada pela insônia. Minha porta se abriu e ela disse: "Que cara é essa?" Cara de saudade, Gabriela. Saudade boa, sem tristezas ou mágoas. Nós éramos assim. Seguimos por caminhos diferentes, sem ressentimentos. "Amor", lembro de quando tu me chamou assim um dia após nosso término e disse que não sabia se dirigir a mim de outra maneira. E, bem, hoje posso te responder o que há dois anos atrás não o fiz: Amor, não nos amamos mais ou menos, não nos amamos por igual, amamos apenas da nossa maneira.


segunda-feira, 23 de julho de 2012

Uma carta de amor

"Papai, você é meu herói", "mamãe, você é a melhor do mundo", escrevia eu em tantas cartas na época de colégio. Hoje, na faculdade, volto a dizer o que há muito tempo não digo: "Mãe, você é a melhor do mundo", "pai, você é meu herói".
Dizem por aí que criança não mente, mais do que qualquer um vocês sabem que mentirinhas eram as minhas preferidas quando menor. Não estou querendo dizer que mentia anos atrás, apenas quero que entendam: Hoje, essas duas simples frases fazem mais sentido do que nunca. Hoje, eu sei o que significam e sei que vocês dois, mais do que qualquer pessoa desse mundo, são merecedores de tais palavras.

Quando a gente é criança, nossos pais são nossas únicas referências, são como espelhos e bengalas. Nos vemos olhando para eles e, ao mesmo tempo, nos amparamos em seus braços. O afeto entre pais e filhos pequenos é natural. É da natureza amar algo que está sempre conosco nos cuidando e ensinando.
Pai, mãe, não os amo somente por serem meus pais. Não os amo somente por terem me posto neste mundo, me criado e educado. Amo-os por serem quem são. Amo-os pela honestidade que carregam, pela humildade que passam a todos, pela persistência que mostram ao mundo, pela beleza rara que poucos ainda têm: o amor sincero. Amor que vejo em cada abraço, em cada ida à Porto Alegre, em cada telefonema de saudade, em cada ruga de preocupação, em cada mensalidade paga, em cada briga e discussão. Amor esse que sei só poder encontrar em vocês.

Não é difícil falar de quem mais amamos, difícil é encontrar palavras que possam englobar tudo sem esquecer o tudo. O tudo que vocês significam.
Por todas as noites mal dormidas, por todo suor escorrido, por todas as histórias lidas, banhos dados, gasolina gasta, por todo estresse causado, por todos os fios brancos, quero lembrá-los, meus queridos: Eu estou aqui.
Chegará o dia em que os cabelos brancos não serão consequência de minhas façanhas, chegará o dia em que eu os darei banho, contarei histórias e os colocarei pra dormir. Mesmo que seja cedo pra dizer, que ainda não seja necessário, eu quero poder lembrar a vocês o quanto puder. O amanhã é incerto, a vida pode ser injusta, mas lembrem-se, o amor sempre vence. Se a decepção acontecer, a tristeza bater a porta e os obstáculos forem maiores que nós, não esqueçam nunca, nosso amor é maior que tudo isso.

Oito cidades. Um belo número para uma jovem de 19 anos. Sabem aquela história de ter amigos de infância? Um único colégio? Uma única casa? Pois é, coisas que não pude ter. E, bem, hoje posso afirmar com toda verdade dentro de mim, vocês são a minha casa, os meus amigos, os meus melhores amigos. Pai e mãe, acreditem, não me faltou nada nessa vida. E se faltou algo, foram apenas algumas palmadas. Obrigada por toda estrada que percorremos, por todos os lugares que passamos, por todas as dificuldades que enfrentamos. Não fosse isso, hoje, eu não seria quem sou. E querem saber mais? Volto a velha história de criança. Volto aos meus 5 anos de vida e digo: quero crescer e ser como vocês. Quero a bondade da minha mãe, a gentileza do meu pai, a personalidade e o caráter das duas pessoas mais incríveis de toda a minha, ainda curta, passagem por esse mundo.

Peço que esqueçam das vezes em que os decepcionei, das vezes em que os magoei com palavras ou atitudes. Porém, peço que sempre lembrem: Eu amo vocês!


terça-feira, 10 de julho de 2012

Tic-Tac cinematográfico

Um vazio apertado
Uma memória nunca existida

Insaciável procura no escuro
Aquela vontade suprimida

Desejo corrompido, escondido
Verdade oculta, talvez reprimida

Sente-se no sofá, meu bem. Chegou a hora de ver na tv o que sonhou para si mesma.
Puxe a coberta, sirva o copo com vodca e aperte play.

Não segure a emoção, somente as paredes dessa sala poderão ver o que sentes.
Deixe a angústia da incerteza bater aí dentro, pulsar em tuas veias.

Quando a música entrar e os créditos subirem você verá, meu amor, não passava de uma ilusão muito bem ilustrada. Não passava de um livro doce retratado por imagens bonitas. Não passavam-se de cenas fictícias.

E você, minha pequena, não está nelas mas, bem, não se esqueça, ainda tens tempo até a hora de teus  próprios créditos subirem.

terça-feira, 26 de junho de 2012

Depois

Meu abajur está aceso, posso ver alguns sapatos espalhados pelo chão. Assisto a fumaça do meu cigarro perambular pelas paredes enquanto te procuro entre os móveis.
Dizem que nosso quarto reflete nossa vida. Eu diria que meu guarda-roupa bagunçado é o reflexo da minha cabeça confusa.
Somos mesmo só eu e a minha psicologia alternativa, conversar comigo mesma pra tentar entender o que está se passando.
Essa minha mania de seguir na busca pela compreensão do que se passa a minha volta. O que meu olhos assistem e me nego a ver.

Enquanto meu cachorro se remexe na cama, busco o conforto das cobertas empilhadas e almofadas amontoadas.
Cada dia que passa é só mais um dia, só mais 24 horas arrastadas e nem tão aproveitadas.
Diga-me, por quê estas aí parada? Explique-me tua inércia. A falta de cor traz a chuva e os tormentos, as perguntas nunca respondidas e as ideias apenas pensadas.
Já passou da hora, já é quase tarde demais. 
Será mesmo? Será que ainda há tempo para recuperar o que ficou pra trás? Apagar os erros e remendá-los com meios acertos. Aguar as flores de cima da geladeira, varrer a sala e não empurrar a sujeira para trás da porta...
Ei, espere aí. A televisão está ligada, Charlie Harper estampando a tela. O sofá me chama, vida. Volto mais tarde para concertar tudo. Volto depois, logo depois.


domingo, 3 de junho de 2012

Dias da semana

Me ligue às 3 da manhã de uma segunda-feira, pra contar que saiu com os guris, encheu a cara e lembrou de mim quando precisou de alguém pra encontrar as chaves de casa.
Não me deixe sozinha em uma terça. Fique ali no sofá, fumando teu cigarro, e me observando enquanto faço meus trabalhos.
Aliás, deixe-me acender teu cigarro. Gosto de ver teu rosto iluminado pela chama do meu isqueiro cor de laranja.
Vem aqui pra casa, na quarta, e traz aquele vinho doce de 5 pila.
Não vá embora sem dar tchau. Não invente essa de que odeia despedidas, isso é desculpa de covardes. Antes um abraço de adeus do que apenas um lembrar da noite de ontem.
Quando chegar a quinta-feira, e tu já estiver de saco cheio de mim, me encontre pra dizer que cansou de nós.
Na sexta, vá pra noite com os guris. Tome o que o dinheiro der e o estômago aguentar. Volte pra casa sem lembrar do que aconteceu.
Acorde tentando entender porque não me encontrou na cama ao teu lado, no sábado. Durma o dia inteiro, me ligue e vá pra janela fumar, pensando o porquê de eu não ter te atendido.
Assista ao fantástico comendo uma miojo e tomando uma coca bem gelada. Me ligue de novo, peça desculpas, tente te explicar e diga que está vindo aqui me ver.
Aguente o tempo que for. Não me chame de fazida. Insista.  Brigue com o porteiro, bata na porta do meu apartamento e, quando eu a abrir de novo, não ouse ir embora.

terça-feira, 15 de maio de 2012

Pra lembrar

Éramos só nós dois. A casa estava lotada, mas eu só ouvia a chuva caindo e a tua respiração ao pé do meu ouvido esquerdo. A rede era pequena e a vista que tínhamos daquela sacada casava com o momento.
Sempre me perguntei quando estaria pronta para dizer: "Nunca me senti tão bem", mas não precisei. Tu olhou nos meus olhos, tocou no meu rosto e apenas sentiu. Eu estava realmente bem.
O tempo pela primeira vez parecia ter parado. Não pensei nas horas, elas estavam a nosso favor. De início me preocupei se alguém sairia lá fora pra dizer que precisávamos ir embora. Mas tu estavas ali, me abraçando, arrumando minha roupa que, vez em quando, encurtava mais do que devia. Tu estavas ali passando a mão em meu cabelo, me fazendo querer te olhar mais do que outra coisa qualquer.
Durante 4 horas e 12 minutos te conheci apenas por estar deitada junto a ti. Não trocamos muitas palavras, não precisava. Às vezes em que me mexi tu te ajustou ao meu corpo. Não dormimos, não fizemos nada além de conhecer um ao outro. Pelas mãos dadas, pelas pernas que se entrelaçavam, pelo teu braço envolta de mim e o cafuné no cabelo, vimos quem cada um era. Entendi o teu jeito misterioso e tu compreendeu a minha timidez.
Precisei de apenas 10 minutos para acalmar minha ansiedade e notar que tu não queria ir embora tanto quanto eu. Não queria acordar pro mundo a nossa volta, nem mesmo pensar que amanhã não nos veríamos. Que amanhã talvez nem existisse ou que apenas não fosse como gostaríamos. O amanhã realmente não importava.

Éramos só nós dois. Apenas eu e tu vivendo uma história não escrita, uma história curta, sem vírgulas e pontos finais. Uma história pra lembrar e apenas sentir saudade.

quinta-feira, 19 de abril de 2012

Mulheres, cigarro e álcool

Taí um título que encoraja muito marmanjo a clicar nesse link. Coitados, certamente vão ler e não gostar, encher esse post de comentários nada agradáveis e revoltados. Bom, sinto muito, não me abstenho de meus pensamentos porque vocês me acharão menos legal.

Enfim, vamos logo com isso. Estava eu aqui, como de praxe, sentada em minha cama acompanhada de Kurt, John e uma bela dose de insônia, pensando nessa bobajada de "mulher que fuma e bebe é bagaceira". Sim, lá vou eu mais uma vez expressar meu feminismo exacerbado. Então, caras, qual o problema de fumarmos e bebermos? Por acaso teus amigos homens também são discriminados pelo ato de desgraçar com o próprio pulmão? Don't think so.
Não gostar do cheiro ou mesmo do ato de fumar, beleza. É opinião de cada um, gosto de cada um. Assim como cada um faz o que bem entende com a própria saúde. Isso não se relaciona com gênero e personalidade.

Pra não ser tão chata e repetitiva, vou deixar um pouco de lado essa questão da mulher. Partamos diretamente para o tópico de álcool e bebidas sem restringir a gêneros. Claro, com um título desses eu deveria seguir com argumentos diretamente relacionados ao sexo feminino, mas como a crônica é minha e eu a desenvolvo como bem entender, f****** as regras da UFRGS.

De 10 grandes nomes da música, 11 se drogavam e bebiam diariamente, e mesmo assim fizeram menininhas e velhos barbudos se esganiçarem gritando em shows pelo mundo todo. Vão me dizer agora que Janis Joplin, Bob Dylan (o cara que apresentou o mundo das drogas a banda mais famosa de todos os tempos), Amy Winehouse, Cazuza e Renato Russo são piores pessoas porque fumavam e bebiam loucamente? Hipocrisia total reclamar de um ato que seus próprios ídolos faziam. Tudo bem, digam-me que todos esses morreram cedo, mas e quem nesse mundo está livre de ser atropelado amanhã ou semana que vem? Sim, papo clichê esse, porém, verdadeiro.

Todo mundo algum dia já fez, vai fazer, já gostou ou vai gostar de algo que muitos julgarão como errado. Não há nada mais normal que isso. Mente quem disser que nunca julgou o colega ao lado por coisa qualquer. Não estamos livres de nada nessa vida. Nem da morte, muito menos da própria contradição. Tu, que ontem odiava Michel Teló, amanhã pode estar cantando "ai se eu te pego" enquanto toma banho. Na minha opinião, um retardamento no gosto musical mas, bem, essa é MINHA opinião.

Então, pessoal, livremo-nos de nossos preconceitos interiores. Deixemos que transpareçam nossos mais profundos desejos e vontades. Esqueçamos que fazemos parte de uma sociedade onde seguir as regras é a primeira regra. Afinal, quem as dita somos nós mesmo.


segunda-feira, 16 de abril de 2012

Áries

Sou assim mesmo, 8 ou 80
Amo ou odeio
Quero ou não quero
Admiro ou desprezo

Me apaixono tão fácil quanto me desapego
Não gosto de fazer charme, objetividade é meu lema
Autossuficiente, meu sobrenome do meio
Não sou de falar muito, mas falo bastante
Teimosia não falta nesse corpo

Vou dizer pra você ir embora e me esquecer, mesmo que na verdade esteja implorando pra que fique
Não sou do tipo que espera o fruto cair do pé, busco a escada e o alcanço quando achar que devo
Sempre vou escolher teu cabelo desarrumado e tênis desatado
Odeio perder. Odeio muito. Vez em quando acho até que não sei
Não pense que vai me ver bonitinha dia e noite, espere pela manhã seguida da noite passada
Esqueça que algum dia concordarei sem antes travar um bate boca de 30 minutos
Me pergunte o que quiser, sempre arranjo uma resposta
Sou teu travesseiro, aquele que você sempre deseja ao fim do dia. Aquele que sempre estará ali a tua espera

Não gosto de meio termo
Sou bastante exigente
Nunca espere menos de mim
Eu quero sempre mais, muito mais




Você e outros bilhões

A chuva e suas consequências. Vamos falar de um caso específico: Dias chuvosos em casa.
No sofá da sala ou na cama, mas sempre em meio a dezenas de cobertas.
Vento frio correndo lá fora, seu cachorro amontoado ao lado.
Aquele filme de romance clichê rolando na tv. Por mais que saiba que piorará sua situação, você insiste em assisti-lo.
As clássicas twittadas e postagens no facebook. Aquelas bem "forever alone" e que no final do dia alguém sempre larga alguma indireta: "Coisa chata esse pessoal reclamando da solteirisse"
Ou mesmo essa crônica.
As lamentações entre amigos.
Não posso esquecer dos chocolates e salgadinhos.
O iTunes está aberto, a música mais animada tocando, mas você precisa ouvir aquela que te lembra dele ou dela.
Enquanto está no sofá da sala, comendo o último kit-kat, imagina que sua cabeça não está em uma almofada e sim no colo do fulano.

Pois é, são em dias como esses que percebemos o quanto somos dependentes de outro alguém. Não importa quem seja, se já o encontramos ou não. Nesses dias temos a certeza de que nunca seremos felizes sozinhos, ou pelo menos naquele momento.

Não é infantil ou vergonhoso sentir falta de calor humano e um pouco de atenção. Somos assim, temos mania de querer tudo aqui e agora, sem deixar pra depois, sem esperar que o tempo passe e faça seu trabalho. Mania de nos sentirmos amados e seguros.
Falando em tempo, já virou rotina ouvir sobre a clássica "você só encontra quando menos espera, quando não estiver à procura". Que coisa chata saber disso. Chato e desanimador. Na teoria é sempre mais fácil, quero ver você ir ao supermercado sem prestar atenção no carinha ou na moça da fila do caixa ao lado.
Quero ver você passar a sexta-feira à noite, chuvosa e fria, sozinho, sem pensar que estaria melhor acompanhado.
Mas querem saber da verdade? Verdade verdadeira? A vida é assim. Nascemos e morremos, amamos e odiamos. Não é o fim do mundo estar sozinho. Afinal, você não está sozinho nessa, existem outros bilhões de sozinhos por aí à procura de alguém como você.

quarta-feira, 11 de abril de 2012

Manual

Quando eu estiver de costas, me puxe pela cintura para perto de ti
Quando eu estiver te olhando, faça carinho no meu rosto
Quando minha blusa estiver aberta demais, arrume-a
Quando minha saia estiver muito curta, não reclame, apenas puxe-a pra baixo
Quando eu acordar, me encha de beijos
Quando eu disser pra ir embora, me abrace forte
Quando eu fizer cara feia, dê um sorriso
Quando eu disser que não quero, insista
Quando eu quiser dividir a conta, aceite
Quando eu disser que não quero ir embora, me faça ficar
Quando eu não parar de te olhar, demore pra me beijar
Quando eu estiver contigo, me abrace o máximo que puder
Quando eu pedir pra você ficar, não recuse
Quando estivermos em silêncio, sussurre besteiras no meu ouvido
Quando eu estiver sem maquiagem, diga que sou linda
Quando eu sentir ciúmes, fique feliz
Quando você sentir ciúmes, fale
Quando eu for chata demais, me xingue
Quando não gostar de alguma coisa, fale, fique brabo, brigue comigo
Quando vier aqui em casa, cozinhe pra mim
Quando conhecer meus amigos, seja legal
Quando conhecer minha família, me apresente a sua
Quando chegar a hora, me leve pro seu quarto e esqueça tudo que estiver lá fora
Quando não gostar da minha roupa, diga como gostaria de me ver
Quando eu estiver irritada, me faça cócegas
Quando eu quiser discutir, arrume bons argumentos
Quando quiser jogar video game, me convide
Quando quiser ir à praia, não vá sem mim
Quando quiser sair com teus amigos, apenas me avise
Quando for tomar banho, me convide
Quando se sentir sozinho, me ligue
Quando estiver triste, venha até minha casa
Quando for dormir, me mande uma mensagem
Quando quiser beber, fique bêbado comigo
Quando acordar ao meu lado, diga que me prefere sem maquiagem
Quando achar que cansou de mim, pergunte-se por quê

E quando tudo isso acontecer, apenas diga que me ama.



quinta-feira, 8 de março de 2012

Cinco centavos

Eram exatamente 8 horas e 3 minutos de uma manhã de segunda-feira. Lá estava eu na parada de ônibus. Mais alguns minutos e pude avistar o dito cujo. Embarquei com meus 3 reais na mão, o TRI ainda não havia sido renovado, entreguei-os ao cobrador e fiquei na espera da devolução dos meus 15 centavos de troco. Foi então que ele disse:
- Posso ficar te devendo 5 centavos?
Inocentemente, confirmei com a cabeça e segui com 10 centavos até o assento mais próximo.
No dia seguinte, mesmo horário, mesmo ônibus, mesmo valor entregue, cobrador diferente. Mais uma vez ouvi a frase:
-Posso ficar te devendo 5 centavos?
Novamente deixei passar.
Naquele mesmo dia, voltando do trabalho, precisei ir ao supermercado comprar suprimentos para casa. Adivinhem só, outra vez fui questionada sobre os 5 centavos.
-Não, moço. Me perdoe, mas quero meus 5 centavos.
Ainda com a credencial IMPRENSA escrita em vermelho pendurada em meu pescoço, o rapaz atrás da roleta direcionou-se a mim:
- É da imprensa e ainda quer os 5 centavos de troco.
Fiquei na dúvida se estava mesmo ouvindo aquilo ou se era apenas uma brincadeira de um homem cansado querendo descontrair em mais um dia escaldante na capital gaúcha. Insisti novamente.
- Perdão, se não tens os 15 centavos, me devolva 20. É direito meu.
De cara feia, o jovem de, acredito eu, 30 e poucos anos, entregou-me os 15 centavos.
Poderia continuar aqui relatando inúmeras cenas semelhantes a essas. Algumas até mais absurdas e revoltantes, onde todas as vezes tive de insistir por meus 5 centavos. Sim, meus CINCO CENTAVOS. Exatamente, apenas 5 e MEUS, meus 5 centavos.

A prefeitura de Porto Alegre aumenta o preço da passagem de transporte coletivo anualmente. Em 2012 o acréscimo foi de quinze centavos. Sim, quinze centavos a mais para circular pela cidade passando calor, em um amontoado de gente e, na maioria das vezes, atrasando-se para os compromissos.
Dois reais e oitenta e cinco centavos, nem a mais nem a menos. Entregando uma nota de 50 ao cobrador é obrigação dele devolver o troco correto ou a mais, se não o tiver. É nosso direito pagar com 20 vezes o valor que nos é cobrado.
E não pensem que acabou. Hoje mesmo, na ida para a PUCRS, esperei exatos 54 minutos na parada. Resultado de uma falta na cadeira de Telejornalismo I. Resultado de uma ligação para a EPTC que durou aproximadamente 20 minutos praticando meu direito de reclamação pela demora. Reclamação essa que nunca será ouvida. Mas precisei reportá-la. Precisei exercer minha indignação e revolta.

Matemática nunca foi minha melhor disciplina e nem acredito que um dia será, mas peço aos apreciadores desta que façam o simples cálculo: Multiplicar esses 5 centavos pelo número de pessoas que ouviram a mesma frase que eu e, inocentemente, aceitaram não os receber. Não é preciso ser economista, matemático, físico ou administrador pra saber que o número final desta simples conta não será nada pequeno.

São incontáveis os absurdos dessa cidade, digo, desse país, mundo. E o que eu poderei fazer? Uma simples jornalista em formação reclamando de 5 centavos negados. Estudante de universidade privada, riquinha, rebelde sem causa.. Tudo papo furado! Somos todos farinha do mesmo saco. Fossem 5 ou 2 centavos, fosse morador de rua, da zona norte ou zona sul, estudante da UFRGS ou Unisinos, todos podemos e devemos reivindicar NOSSOS "míseros" 5 centavos.
Amanhã, às 8 horas e 3 minutos perguntarei ao cobrador:
- Posso ficar te devendo 5 centavos?

quarta-feira, 29 de fevereiro de 2012

Coisa qualquer

A minha janela, a janela do meu quarto. Bem, ela é bastante grande, ocupa uma parede inteira. Gosto dela, sempre me faz companhia nas madrugadas perdidas da semana. Através dela vejo muita coisa. Diversos prédios entrelaçados, luzes acesas, pessoas e mais pessoas perambulando para lá e para cá. Vez em quando avisto alguma moça desavisada trocando de sutiã, algum velho em frente a tv se deslumbrando com alguma coisa que prefiro nem saber.
E quando a luz do notebook se apaga corro até ele e aperto a tecla mais próxima, sinto que também me faz companhia. No momento em que não o vejo iluminando minha cama percebo que somos mesmo só eu e aquelas outras pessoas. Aquelas desconhecidas e também desocupadas em seus respectivos quartos do outro lado da rua.

Diversas vezes me pergunto o que estariam elas fazendo, ou melhor, o que pensariam se soubessem que existe alguém, naquele momento, pensando nelas. Com o que trabalham, estudam, quais seus sonhos, nomes e rostos. Estaria eu as importunando? Não acredito que me acusariam de invasão de privacidade. Apenas mais uma jovem com insônia e vontade de escrever sobre coisa qualquer. 
O moletom velho guardado no fundo do guarda roupa já está chamando. O vento frio que vem entrando pede um abraço. Daí surgem as memórias, as lembranças e histórias. São tantas pessoas lá fora, tantas que já conheci. Quem se atreverá a dizer que uma delas já não passou por mim? A estrada foi longa, os caminhos se cruzaram e se fecharam mas, afinal, o que faço eu aqui, em meio a algumas almofadas, dois violões e tantos sonhos ainda não realizados?

Não posso perder o foco, já esqueci de trocar o lixo da cozinha e repor a água do meu cachorro. Acabei me perdendo com a lua crescente que me observa lá de cima. Fiz questão de não olhar para o relógio e lembrar que trabalho amanhã, as aulas também já vão começar e minha mente insiste em me desalinhar da vida que corre por fora dessa imensa janela.

Queria deixar um pouco de lado as preocupações. Essa vida de adulto vem me importunando ultimamente. Ir ao supermercado, pegar ônibus pra ir aqui e lá, responder a quem pergunta "sim, sou maior de idade". Pois é, qualquer coisa que aconteça não será mais o papai ou a mamãe a responder. Ah, são tantas coisas diferentes, já se passou quase um ano e eu pareço ainda estar "naquele esquema, escola cinema, clube televisão..". Que besteira dizer isso, tamanha infantilidade. Quase dezenove anos e ainda sente falta de casa? A saia da mãe e o colo do pai fazem falta? Quem diria! Tanto quis sair de casa, chutar o balde em festas, ganhar o próprio dinheiro, é.. Querem saber? Jogue a primeira pedra quem nunca sentiu falta de ser acordado por alguém que não um aparelho tocando determinada música que depois de um tempo acaba enjoando.
Mas, e agora, onde deixei meu pijama? Recorro a velha frase: "é muita mão", vou dormir assim mesmo, de roupa, antes que o vento acelere e leve embora minhas lembranças.

terça-feira, 28 de fevereiro de 2012

Desabafo feminino

Estamos cansadas. Pois é, caras, nós cansamos. Cansamos desse papinho de "vamos lá pra casa assistir um filme", dessa lorota manjada de "nos falamos quando der", a velha desculpa de "não tenho como ir, vem tu". Prestem bem atenção, meus queridos, nós cansamos de ser apenas um agrado ao final da noite e um tchau na manhã seguinte. Nós queremos sair pra ver o mundo acompanhadas, ligar à tarde pra dar uma volta em algum lugar qualquer, almoçar entre a aula e o trabalho, receber convites para uma janta, andar de mãos dadas para lá e para cá.

Já dizia um velho ditado: "O interessado dá um jeito", e dá mesmo. Mas, e agora? Se nós, moças, mulheres, damos o tal jeito, somos rotuladas de fáceis. Então, o que fazer? Bom, se a teoria mais aceita sempre foi essa e persistiu até hoje, me respondam vocês, por que tanto descaso? Por que tanta preguiça? Sim, só posso imaginar que seja preguiça. Custa muito convidar pra um cineminha antes de atropelar tudo? Bom, talvez custe uns pilas, mas e porque não uma volta com o cachorro por aí? Umas cervejas no bar da esquina, aquele açaí no final da tarde? Guris, tomem a frente, larguem a saia da mamãe, sejam homens. Se ainda insistem com o pensamento machista de que mulher não pode assumir o controle, fazer convites e segurar as rédeas, criem vergonha na cara e larguem essa história de "ver filme aqui em casa". Só sendo muito burra pra achar que o filme vai ser mesmo assistido. E, bem, qual o problema se não for? Problema nenhum, para nós. O problema está todo com vocês.

Queria entender essa mania de desvalorizar a mulher que faz sexo com alguém que não seja seu namorado. Só vocês podem se divertir e sair por cima recebendo elogios e apelidos encorajadores? Me poupem, queridos. Cresçam, amadureçam e esqueçam que o sexo um dia foi um esporte exclusivo do público masculino. A mulherada não invadiu só o futebol e, sinto muito, meus caros, se estão à procura de santas, bem, o convento está cheio delas!